Feliz Ano Novo ...de novo ?!
- Eduardo Cupaiolo

- 18 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de mar. de 2023

- Ok, maravilha, adoramos a proposta. Fechado!
- Ótimo! Bem, hoje é quinta, começamos quando? Na semana que vem?
- Não, não. Acho melhor... sim, é verdade... vamos deixar para depois do Carnaval.
- Desculpa... como assim?
- Sabe como é, agora o pessoal ainda não está focado, e precisamos ter toda a equipe envolvida. É melhor deixar mesmo tudo para depois do Carnaval.
- Mas não há um risco enorme para o negócio de esperar tanto? O mercado não é estático, a janela de oportunidade pode simplesmente se fechar e a concorrência pode não ter parado durante as festas.
- É, existe este risco, de fato. Mas você sabe como é complicado. Samba, feriadão, verão, sol, praia. Adiar por alguns dias o projeto não será tão perigoso assim. Afinal, no Brasil o ano só começa mesmo depois do Carnaval.
- Mas hoje ainda é dia 9 de janeiro, falta mais de um mês para o Carnaval. Até lá, o projeto já poderia ser implantado, os primeiros resultados já estariam sendo contabilizados, e seus clientes, melhor atendidos. Até aquela redução de quadro poderia ser revista. Seria muito bom para todo mundo.
- Sei, sei - disse meu cliente enquanto saía de trás de sua mesa com uma camisa de estampa havaiana, bermuda, os braços levantados, as mãos espalmadas, balançando de um lado para o outro e cantando “e vai rolar a festa, vai rolar”.
Então... acordei. Nossa...que pesadelo!
Imagine viver num país em que o ano só começa depois do Carnaval!
Pesadelo, que pesadelo, que nada! É a pura verdade. A primeira segunda-feira depois do Carnaval é o primeiro dia do ano para muita gente. Assim, por uma questão de boa educação, não se esqueça de desejar a essas pessoas um Feliz Ano Novo. De novo.
Sim, eu sei. Muitos podem estar pensando que não é bem assim, que tem muita gente dando um duro danado desde o primeiro dia de janeiro. Que muito lixo já foi recolhido, muitas operações cirúrgicas foram realizadas, incêndios apagados, bandidos presos, enfim muito trabalho digno e importante foi tocado por gente que não esperou o fim do Carnaval para cumprir seu dever. Concordo.
Mas não é a essas pessoas que me refiro. Mesmo que, em alguns casos, seja por falta de alternativa, elas estão dando conta do recado. São merecedoras de nossa gratidão.
A minha crítica é para quem vive adiando tudo, os proprietários ou inquilinos de posições de mando e desmando, donos de seus narizes e dos narizes alheios, que protelam as decisões de hoje para amanhã, para depois da Páscoa, para o ano que vem, para o dia que nunca vem. Pior,,decisão demandada para ontem, para a véspera do feriado, do Ano Novo. (cristão, judeu ou chinês).
Falo contra os postergadores do bem comum, gente preocupada apenas com o furinho no meio da própria barriga. Ou nem com isto. Na teia da engenharia social, se permitem o luxo de deixar para depois o devido ao outro e a si mesmos.
Falo da síndrome pós-carnavalesca, que nasceu nas corporações mas já contaminou a vida familiar de muita gente e se enfurnou na cultura nacional.
Como o estudante que aparece na escola só em março, já que os professores não vão dar nenhuma matéria mesmo antes do Carnaval. Os pais que concordam e, com isso, isentam os professores de culpa. Todos reclamando do baixo nível da educação, da falta de tempo, do corre-corre, mas desperdiçando uma sexta parte do ano à espera de que a vida comece apenas depois do Carnaval.
Agindo sempre da mesma forma, ano após ano, pois como nos grandes desafios nacionais ou corporativos, acreditam na tese de que sempre foi assim mesmo, e nunca nada vai mudar. Mas, não, nunca é tarde. Se sempre foi assim, que não seja mais. Paremos de fingir que não é conosco, de colocar a culpa no governo, nos “ómi lá de cima”, na diretoria da empresa, no meu pai ou na minha mãe que me educou assim, na herança cultural ou na natureza: eu nasci assim, fazer o quê?.
Reconheçamos que a cultura nacional ou corporativa é fruto da soma dos hábitos de cada um de seus membros.
Sejamos senhores do nosso destino. Nunca é tarde para mudar. Não esqueçamos os erros passados, para não repeti-los no futuro, mas não deixemos de mudar, e já.
Façamos hoje aquela reunião que tínhamos adiado para quinta-feira. Ataquemos de frente aquele problema cabeludo que havíamos escondido na gaveta de baixo. Terminemos aquele relatório.
Façamos as ligações adiadas. Paguemos as contas antes do vencimento. Leiamos aquele livro que já está empoeirando em nosso criado-mudo.
E daqui para a frente, inauguremos juntos uma nova era neste país: mesmo que o Carnaval caia em junho, nosso ano começará sempre no dia 1º de janeiro.
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Sou Eduardo Cupaiolo penso e repenso o lado humano nas organizações. Quem saber mais sobre cultura organizacional e como lidar com seus desafios, conheça A Jornada do Líder.



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