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Experts: quanto custam ou quanto valem? - Parte 1

  • Foto do escritor: Eduardo Cupaiolo
    Eduardo Cupaiolo
  • 31 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de fev. de 2023


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Foto de Jean van der Meulen

Não levou muito tempo para perceber que o filme era ruim.


De doer. Mas eu já tinha alugado e pensei que talvez conseguiria tirar um pouco de leite daquela pedra.


A trama se passava na China. O pai, bilionário, dono da maior empresa farmacêutica da Ásia estava à procura de seu filho único desaparecido há 3 anos. Para encontrá-lo contrata um ex-agente da CIA.


– Não se preocupe com as despesas, gaste o quanto quiser mas encontre meu filho.


De repente me peguei em reflexões interessantes. O pai tinha um monte de dinheiro…. ok, mas por quê contratar exatamente aquele sujeito?


A minha melhor resposta foi: porque ele era um expert.


A singela descoberta me levou então a outras perguntas. Mas o que fizera dele um expert? O quê na verdade faz de alguém um expert? Como alguém se faz um expert? O quê um expert faz?


Para minha satisfação aquele filme ruim rendeu insights que eu não esperava. Nem o diretor dele com certeza.

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Foto: Lailson Santos/Veja SP

1. Todo expert é um especialista mas nem todo especialista é um expert.

Especialista sabe muito a respeito de uma coisa só. E só. Expert sabe tudo a respeito daquela mesma coisa, mas também sabe muito das outras coisas que são importantes para saber tudo da primeira coisa.


Como o Dr. Adib Jatene. Um expert em cirurgia cardíaca. Conhecia tudo do assunto. Mas também era um excelente médico, um generalista, com um visão do todo. Capacitado para avaliar numa fração de segundos como cada uma das opções para resolver um impasse na mesa de cirurgia afetará e será afetada pelas milhares de funções e reações do organismo humano.


Ele sabia que tudo estava entrelaçado e que não pode olhar apenas para a árvore e se esquecer da floresta. Mas como ninguém sabe tudo a respeito de tudo, expert, expert meeesmo ele é em cirurgia cardíaca.


2. Para se tornar um expert é preciso tempo e experiência. Mas tempo e experiência só, não são suficientes.



Em Outliers (Fora de Série), o autor Malcolm Gladwell apresenta a Regra das 10 mil horas. Em termos sintéticos, ela diz que alguém só se torna fora de série no que faz depois de dedicar 10 mil horas à prática daquilo.


Tocar, dançar, pintar, jogar botão, xadrez, dar palestra, obturar dentes. Tempo, muito tempo. 10 mil horas, aproximadamente.


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Mas tempo só não basta. Porque muito tempo fazendo a mesma coisa da mesma maneira, faz de alguém, no máximo, um especialista na mesma coisa da mesma forma o tempo todo.


Além de tempo é preciso experiência. Ter enfrentado situações diferentes. Problemas complexos, até insolúveis à primeira vista. Ter quebrado muito a cabeça. E a cara. Ter errado. Errado muito. Perdido tempo, sono, paciência. Ter tentado. Assim e assado. Deste lado, do outro lado. Frito, cru, empanado, gratinado.


Como Thomas Alva Edson, ter descoberto pelo menos as 999 maneiras de fazer errado. Até que acertou. Consertou. Acho o caminho certo. Aprendeu. E é exatamente por isto que tempo e experiência não bastam. É necessário ter passado pelo processo de aprendizado. E ter aprendido.


Ter adquirido sabedoria, discernimento. Fruto de experiência, tempo, reflexão, aprendizagem, aprendizado.


3. Ter, depois disto, adquirido uma intuição treinada, em que cada novo desafio fica com cara de dejá vu.


Já vi algo assim antes – é a primeira coisa que passa na cabeça de um expert quando lhe apresentam um novo problema.


E já terá visto mesmo. Talvez não e-xa-ta-men-te aquilo, aquele, daquele jeito mas algo muito, muito parecido. Ele sabe como as coisas funcionam. E como as fazer funcionar quando não estão funcionando.


Cirurgião, mecânico, técnico de vôlei, bordadeira, cozinheira, chefe de cousine, terapeuta, advogado, arquiteto, maquiador, enfermeira, mestre de obra, e todo bom consultor, todos sabem, todos já sabem o que está fora do lugar e como arrumar.


4. O problema é que um expert é caro?


Gaste o quanto quiser?!…. só mesmo em filme!


Quem pode se dar a este luxo? Poucos, bem poucos. Quantas empresas? Poucas. Quase nenhuma.

Pensando bem, nenhuma mesmo.


Receita é desejo. Despesa é fato. Receita se conjuga no futuro do presente, ganharei. Às vezes só no futuro do pretérito, ganharia… mas não ganhei.


Já despesas, se conjuga em tudo que é tempo. Presente, passado, futuro e principalmente no gerúndio, como no callcenter: vamos estar gastando. Sempre.


Mesmo quando o dono da empresa diz que agora é só no imperativo negativo: não gaste tu, não gaste ele, não gaste ela, não gastemos nós, vós também não haveis de gastar, nem eles, nem ninguém, que quem manda aqui sou eu.


Por que no Reino do Lado-de-cá-da-tela, rei são mortos, reis postos, mas das despesas com os impostos ninguém consegue se livrar.


E é por isto que um expert não é caro. Pode até custar bastante mas não é caro.

Caro é só aquilo que não vale o quanto custa. Por isto um expert, expert mesmo, é barato, muito barato.

Fim da parte 1. Continua no próximo post.

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